segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

DEVANEIOS

DEVANEIOS....

Eu parti por uns instantes, subi no barco da ilusão e de papel. Empurrei-o com os dedos e logo mais estava eu de corpo inteiro, tocando o mar com os dedos e os pés. Ora realidade, ora devaneio. No devaneio persisti e deixei que me me molhassem o vestido vermelho floral, o chapéu voou, a echarpe foi colando na pele e fitando o celeste sorri e no último momento peguei impulso e subi na embarcação, meu carmim virou uma vela encantada... Agora é o verde das águas que me aponta o horizonte.
Espreguiço a alma, estalo os dedos, respiro fundo e ainda me lanço, com coragem (ou covardia?) na tentativa da expressão exata, sem meio termo, inteira e compreensível, que não deixe margem à interpretações dúbias...Tento, ainda...
Melhor não mais olhar para trás, na margem ficou o credo e muito areia, por aqui espaço, segredos e mistérios. Hora de remar, no colo da memória está as letras do Caio, "remar, re-amar", ao redor os sonhos nadam com os peixes e as aves se aproximam para guiar ao sol...
E aos pés deste verbo sacrossanto, debruço o pensamento em prece silente e profunda, sem promessas, sem juras, sem apelos...apenas grata por estar, finalmente, contido em meu ser...
Sinto graça no cair de uma garoa, acolho como bençãos de Jesus/Oxalá... Iemanjá de branco e azul abre as águas para o eu passar. E docemente os ventos vão me acolhendo e colhendo os silêncios todos, lágrimas de prazer caem e pintam essas letras pretas no papel que já não é mais cinza. É amarelo de sorriso largo!
Magicamente olho para cima e contemplo essas letras, como se fossem fumaça deixada pela esquadrilha, ou como um anuncio escrito no arco iris. "Saudade, presença do ausente". E a cena se encerra com gotas raivosas da chuva que inunda meu rosto, misturando com lágrimas, que logo, logo será uma tempestade. O que era para ser lírico tornou-se um espetáculo dramático.
Borrou todo jornal. Silente as letras escorreram e aos pingos da chuva, das lágrimas foram seguindo mar adentro... Eu recolhi os dedos e com minhas mãos cobri a face, mas cedi e levantei deixando que toda esta água me inundasse a alma... Segui em terra firme, agora sobre passos, o lenço carmim perdera-se nas águas, mas seria ele mesmo pertencente ao devaneio... Meu abrigo é aquele banquinho repleto de folhas, não mais secas, ficaremos embaixo desta árvore esperando o esteio entre gotículas. Eu e as folhas... Nunca tão sozinha... Tenho a Poesia em mim e sei que posso fazer um castelo deste momento aqui.

Angelina Cruz, Bia Cunha e Lena Ferreira

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

ÓRFÃOS


Andávamos,tortos,
trôpegos, tontos
como quem à noite
caminha

Estávamos assim
no fim do início
no início do fim
do precipício

Traçávamos, mortos
sôfregos pontos
como quem jamais
se aninha

Sangrávamos, órfãos
de poesia

Corre nas veias
a mais pura anemia.

Lena Ferreira & Wasil Sacharuk