Cedeu-me seus lábios...
Então olhei fixo pra cima
Em busca de seus olhos
Estavam fechados e trêmulos
Sufocado por um instante
Senti o gosto daquele desejo rosado
Tapar-me a boca ofegante
E calar minha língua intrometida
De joelhos lambuzei-me
Feito uma criança gulosa
Saboreando um sorvete
De néctar orquídea-selvagem
Cedeu-me poros, pele, pelos...
Inteiros, rendemo-nos aos apelos
seguidores de estrelas fartas
do céu de mel, de vinho e paixão
Cedi meu ar rarefeito em excesso
doei-lhe a Vida que em mim é farta
insensato que sou, verti três Sóis
e nu e cru clamei por razão
Mas já era tarde; dois corpos atados
jorravam pelos meios o melhor de nós
meu Sol, tua Lua, uma só poesia
eclipse sem fim, sem pudor, extasia...
(Lena Ferreira & Paty Ramos)
.
É tarde e a noite arrasta mil correntes
na cama, a alma afoga-se em pranto
saudade; choro solidão no canto
os olhos baços, frios, vão dormentes
.
A falta que torna as horas plangentes
Agonizo silente e não me espanto
Um breu que me abraça assim qual manto
trazendo as dores cãs, remanescentes
.
É tarde mas é cedo pra esquecer-te
é cedo, é cedo; e o medo instalado
de não te ter, jamais, sempre ao meu lado
.
Faz com que meu amor queira alcançar-te
mesmo estando tão frágil e abalado
sangrando, o peito espera, tão calado