sábado, 10 de outubro de 2015

DO CONTRÁRIO

Após um banho despetalado de mim, cuido da alva pele que me reveste, ressecada pelo tempo, mas hidratada pela serenidade. Despida e quieta dirijo-me a mim. Diante do espelho não vejo o que olho, consciência tenho que minhas retinas me fitam, mas só encontro a menina sem riscos na face, com o seio nascendo, braços e pernas finas, sorriso contido e lágrimas incontidas. Observo o retroceder da cena, o suor dos olhos limpando a trela da maquiagem, o tempo uivando convites e despertando os ânimos esquecidos. Sem demora, a menina que vejo, salta, brinca, ri e chora, esquecida dos olhos ocultos que espreitam seus atos impensados. Ingênua, pensa, ainda, que pode alcançar liberdade e num rodopio fremente ergue os braços e espanta a fumaça que embaça os meus pensamentos. Rodopiando entre fases e lugares, alarga os espaços do passado e do logo mais, entre devaneios e alucinações, gargalho em ênfase ao desabafo dos atos secretos. Entre eus e múltiplos contextos os segredos se desvencilham, encaixa-se na minha Pandora e num desarrumar de formas não fecho, não me fecho. Brinco. Faço-me feliz sem logo mais. Agora. Meu tempo ou minha idade se determinam no malabarismo do vento, eu não enxergo. Quem enxergará? Só do avesso tem segredos para entrar? Quem os sabe além de mim? Não me revelo, me resvalo…
…do contrário não me seria. E hoje me sou!




Bia Cunha & Lena Ferreira

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